Infecções sexualmente transmissíveis em alta: Entenda o aumento alarmante e como se proteger

Você sabia que os casos de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) estão crescendo de forma preocupante no Brasil, especialmente entre jovens? Se você pensava que essas doenças eram “coisa do passado”, prepare-se para uma realidade bem diferente. Os números são alarmantes e, mais importante, precisamos falar sobre isso sem medo ou vergonha.

Neste artigo, vou te mostrar o cenário atual das ISTs no Brasil, quais são as principais causas desse aumento assustador e, principalmente, como você pode se proteger de verdade. Porque informação é o primeiro passo para prevenção!

O Cenário Atual das ISTs no Brasil: Números que Assustam

Vamos direto aos fatos: o Brasil está enfrentando uma verdadeira epidemia silenciosa de infecções sexualmente transmissíveis. E quando eu digo “silenciosa”, é porque muita gente nem sabe que está com uma IST até que a situação se complica.

Sífilis: O Maior Alerta Vermelho

A sífilis é, sem dúvida, a IST que mais preocupa as autoridades de saúde brasileiras neste momento. Em 2024, o país atingiu o maior índice de sua série histórica: 120 casos de sífilis adquirida por 100 mil habitantes. Para você ter uma ideia do tamanho do problema, entre 2010 e junho de 2024, foram registrados mais de 1,5 milhão de casos de sífilis adquirida no país.

O Espírito Santo lidera o ranking preocupante, com 212 diagnósticos para cada 100 mil habitantes. Em 2024, foram notificados 256 mil casos de sífilis adquirida, 89 mil em gestantes e 24 mil casos de sífilis congênita (transmitida da mãe para o bebê), resultando em 183 óbitos relacionados à doença.

HIV/AIDS: O Retorno Silencioso

Aqui está um dado que pode te surpreender: em 2023, houve um aumento de 4,5% nos casos de HIV em comparação a 2022. Entre 2007 e junho de 2024, foram notificados 541.755 casos de HIV no país, com 70,7% deles no sexo masculino.

O mais preocupante? A faixa etária de 25 a 29 anos concentra 34% dos casos de aids, seguida pela de 30 a 34 anos, com 32,5%. E entre os homens que fazem sexo com homens, 43,9% dos casos notificados da síndrome ocorreram em 2024.

Outras ISTs em Ascensão

Não para por aí. Gonorreia, clamídia, HPV, hepatites virais e outras infecções também estão aumentando. Dados de projetos de pesquisa mostram que entre jovens vulneráveis de 15 a 19 anos em Belo Horizonte, 13,64% testaram positivo para sífilis, 19,48% para gonorreia e 10,23% para clamídia — números bem acima da média da população geral.

Jovens em Risco: Por Que Eles São os Mais Afetados?

Aqui está a parte que pode chocar você: embora os jovens de 15 a 29 anos representem apenas um quarto da população sexualmente ativa, eles são responsáveis pela maior parte do aumento nas estatísticas de ISTs. Entre 2010 e 2020, a taxa de detecção de sífilis entre jovens de 13 a 19 anos aumentou 1.654%. Sim, você leu certo!

Entre 2009 e 2019, houve aumento de 64,9% das ISTs entre jovens de 15 a 19 anos e de 74,8% para os de 20 a 24 anos. Os homens de 20 a 29 anos apresentam as maiores taxas de detecção: 259,9 casos por 100 mil habitantes, seguidos pela faixa de 30 a 39 anos, com 161,6 casos por 100 mil habitantes.

Mas por quê? Vamos entender as causas reais desse fenômeno.

As 7 Principais Causas do Aumento das ISTs

1. A Redução Drástica no Uso de Preservativos

Esta é, sem dúvida, a causa número um. Pesquisas demonstram que o uso do preservativo vem caindo com o passar do tempo, principalmente entre o público jovem. Segundo dados do IBGE de 2015, dos 27,5% dos estudantes do nono ano do ensino fundamental sexualmente ativos, apenas 66,2% tinham usado preservativo na última relação sexual.

Uma pesquisa mais recente revelou que 44% dos jovens não usaram preservativo na primeira relação sexual e 35% não usam ou raramente usam camisinha. Entre os meninos, 38% afirmaram não saber sequer colocar o preservativo.

Por que isso acontece? Muitos casais em relacionamentos fixos substituem o preservativo por outros métodos contraceptivos, focando apenas na prevenção de gravidez e esquecendo das ISTs. É um erro perigoso, já que a confiança no parceiro não protege contra infecções.

2. A Falsa Sensação de Segurança

Você já ouviu falar de Cazuza e Renato Russo? São ícones da música brasileira que morreram de AIDS nos anos 90, época em que o medo da doença estava no auge. Hoje, a história é diferente.

As novas gerações não vivenciaram as epidemias de HIV e AIDS da década de 1980. A melhora na efetividade do tratamento do HIV, a partir de 1981, e o uso de penicilina como antibiótico efetivo contra a sífilis, desde a década de 1940, criaram uma falsa sensação de segurança entre as gerações seguintes.

Para muitos jovens, HIV e AIDS viraram “coisa do passado” ou “doenças controláveis”, o que diminuiu dramaticamente a percepção de risco. Dados da Sociedade Brasileira de Urologia mostram que 80% dos homens adultos se consideram fora de risco para contaminação e somente 11% admitem que podem estar em perigo.

3. O Impacto das Redes Sociais e Aplicativos de Relacionamento

Com o advento das redes sociais e dos aplicativos de relacionamento, ficou muito mais fácil encontrar parceiros sexuais. Se há 30 anos uma pessoa precisava sair e, ao acaso, encontrar alguém compatível, hoje basta alguns cliques.

O resultado? Aumento no número de parceiros sexuais entre os indivíduos, o que eleva diretamente a probabilidade de transmissão de ISTs. A facilidade de conexão criou um ambiente propício para a disseminação de infecções, especialmente quando combinada com a falta de uso de preservativos.

4. Falta de Educação Sexual Adequada

Aqui está um dos maiores problemas: embora o público jovem demonstre conhecimento sobre as formas de transmissão e prevenção das ISTs, isso não se traduz em práticas de proteção e autocuidado.

O Brasil obteve o menor resultado em uma pesquisa realizada pela Federação Internacional de Planejamento Familiar sobre educação sexual. A falta de educação formal e de uma abordagem assertiva nas escolas é apontada por especialistas como um dos principais fatores para o aumento das ISTs.

O tabu em discutir sexualidade nas famílias brasileiras agrava ainda mais o problema. Muitos jovens iniciam a vida sexual sem informações adequadas, dependendo apenas do que aprendem com amigos ou na internet — fontes nem sempre confiáveis.

5. O Uso Incorreto da PrEP (Profilaxia Pré-Exposição)

A PrEP é uma medicação preventiva contra o HIV que, quando usada corretamente, tem alta eficácia. No entanto, muitos jovens estão usando a PrEP como substituto do preservativo, e não como complemento — o que é um erro grave.

O problema? A PrEP protege apenas contra o HIV, mas não contra outras ISTs como sífilis, gonorreia, clamídia, HPV e hepatites. Resultado: pessoas que usam PrEP mas não usam preservativo acabam contraindo outras infecções sexualmente transmissíveis.

6. Comportamentos de Risco na Adolescência

A adolescência é uma fase de busca por autonomia, experimentação e formação de identidade. Isso frequentemente se traduz em:

  • Relações com múltiplas parcerias sexuais
  • Uso menos frequente de preservativos
  • Uso de álcool e drogas durante a prática sexual
  • Baixa percepção de risco pessoal

O córtex pré-frontal, responsável pela função executiva e tomada de decisões, ainda está em desenvolvimento durante a adolescência. Isso significa que jovens têm maior dificuldade em avaliar riscos e consequências de suas ações, incluindo comportamentos sexuais.

7. Desigualdades no Acesso aos Serviços de Saúde

O aumento das ISTs também está relacionado a desigualdades no acesso aos serviços de saúde. Em áreas rurais e periferias urbanas, o diagnóstico tardio tem contribuído para o aumento da transmissão.

Populações vulneráveis, como homens que fazem sexo com homens, mulheres trans e travestis, enfrentam maior dificuldade de acesso ao sistema de saúde, falta de acolhimento nos serviços, além de vulnerabilidades sociais e econômicas que aumentam o risco de infecção.

O estigma social em torno das ISTs também impede que muitas pessoas busquem tratamento por medo de julgamento, especialmente em comunidades menores onde o anonimato é mais difícil.

As Principais ISTs que Você Precisa Conhecer

Vamos falar sobre as infecções mais comuns e seus sinais de alerta:

Sífilis

Causada pela bactéria Treponema pallidum, a sífilis se manifesta em estágios. Inicialmente, aparecem feridas indolores nos órgãos genitais (que cicatrizam sozinhas, criando a falsa impressão de cura). Depois, surgem manchas vermelhas nas mãos e pés.

O perigo real: Se não tratada, pode causar cegueira, paralisia, problemas cardíacos e até morte. Em gestantes, pode ser transmitida para o bebê, causando malformações graves ou morte fetal.

HIV/AIDS

O HIV é o vírus que causa a AIDS, destruindo o sistema imunológico. Inicialmente pode ser assintomático, mas sem tratamento, evolui para AIDS, deixando o corpo vulnerável a diversas doenças oportunistas.

A boa notícia: Com tratamento adequado, pessoas com HIV podem ter vida longa e saudável, e até reduzir a carga viral a níveis indetectáveis (tornando a transmissão praticamente impossível).

Gonorreia e Clamídia

Ambas são infecções bacterianas que causam ardor ao urinar, corrimento e dor. Muitas vezes são assintomáticas, especialmente em mulheres.

O risco: Quando não tratadas, podem levar à infertilidade, doença inflamatória pélvica e complicações graves.

HPV (Papilomavírus Humano)

O HPV é responsável por cerca de 50% dos cânceres, incluindo colo de útero, ânus, vulva, vagina, orofaringe e pênis. Causa verrugas genitais e lesões que podem evoluir para câncer.

Prevenção: Existe vacina gratuita no SUS para adolescentes!

Hepatites Virais (B e C)

As hepatites B e C podem ser transmitidas sexualmente e causam inflamação no fígado. Podem evoluir para cirrose e câncer de fígado.

Importante: A hepatite B tem vacina disponível gratuitamente no SUS!

Como se Proteger de Verdade: O Guia Completo de Prevenção

Agora vamos ao que realmente importa: como você pode se proteger efetivamente das ISTs.

O Preservativo é Insubstituível

Vou ser direto com você: o uso correto do preservativo (masculino ou feminino) em todas as relações sexuais (vaginal, anal ou oral) é a forma mais eficaz de prevenção. Não existe desculpa boa o suficiente para não usar.

“Mas eu confio no meu parceiro(a)…” — Confiança é fundamental em um relacionamento, mas não protege contra infecções. Muitas pessoas têm ISTs sem saber (algumas são assintomáticas) ou contraíram a infecção em relacionamentos anteriores.

“Camisinha tira a sensação…” — Existem preservativos ultra-finos e com diferentes texturas que podem até aumentar o prazer. Vale a pena testar marcas diferentes.

“No calor do momento, esqueci…” — Tenha sempre preservativos disponíveis. No Brasil, você pode pegar gratuitamente em qualquer posto de saúde!

Estratégias de Prevenção Combinada

A prevenção moderna não se baseia em apenas uma estratégia, mas em várias combinadas:

1. Vacinação: Vacine-se contra HPV e hepatite B (disponíveis gratuitamente no SUS para faixas etárias específicas)

2. Testagem Regular: Faça testes de IST regularmente, especialmente se você tem múltiplos parceiros ou iniciou um novo relacionamento

3. PrEP (quando indicada): Se você pertence a um grupo de maior risco, converse com um médico sobre o uso da PrEP — mas lembre-se: ela não substitui o preservativo!

4. Tratamento Precoce: Quanto mais cedo uma IST for diagnosticada e tratada, menores são os riscos de complicações

Testagem: Quebre o Tabu e Faça seus Exames

Você sabia que pode fazer testes rápidos gratuitos para HIV, sífilis e hepatites em qualquer Centro de Testagem Anônima (CTA) do SUS? O resultado sai em minutos e é totalmente confidencial.

Quando fazer testes?

  • Antes de iniciar um novo relacionamento (idealmente, ambos os parceiros)
  • Após relação sexual desprotegida
  • Periodicamente se você tem múltiplos parceiros (a cada 3-6 meses)
  • Durante o pré-natal (obrigatório para gestantes)
  • Sempre que aparecer algum sintoma suspeito

Sintomas que merecem atenção:

  • Feridas, verrugas ou lesões na região genital
  • Corrimento com odor, cor ou textura diferente
  • Ardor ou dor ao urinar
  • Dor durante a relação sexual
  • Manchas ou vermelhidão na pele
  • Ínguas na virilha
  • Dor abdominal baixa (mulheres)

Desmistificando: Verdades e Mentiras sobre ISTs

MITO: “ISTs só acontecem com quem ‘se cuida mal'” VERDADE: Qualquer pessoa sexualmente ativa pode contrair uma IST, independentemente de classe social, higiene ou número de parceiros.

MITO: “Eu conheci a pessoa, ela não tem cara de quem tem doença” VERDADE: ISTs não têm “cara”. Muitas pessoas infectadas não apresentam sintomas visíveis e nem sabem que estão com a infecção.

MITO: “Só preciso me preocupar com HIV” VERDADE: Existem mais de 20 tipos de ISTs, cada uma com seus riscos. Sífilis, gonorreia, HPV e hepatites são igualmente perigosas.

MITO: “Tomar pílula ou usar DIU me protege” VERDADE: Métodos contraceptivos previnem gravidez, não ISTs. Apenas o preservativo oferece proteção contra infecções.

MITO: “Se eu tiver uma IST, vou sentir sintomas imediatamente” VERDADE: Muitas ISTs são assintomáticas por longos períodos, o que facilita a transmissão sem que a pessoa saiba.

O Papel da Educação Sexual: Por Que Precisamos Falar Sobre Isso

A educação sexual vai muito além de ensinar anatomia. Ela capacita pessoas a exercerem sua sexualidade de forma saudável, consciente e segura. Estudos mostram que países com educação sexual abrangente têm taxas significativamente menores de ISTs e gravidez na adolescência.

O que uma boa educação sexual deve incluir:

  • Informações sobre anatomia e fisiologia
  • Métodos contraceptivos e de prevenção
  • Consentimento e relações saudáveis
  • Diversidade sexual e de gênero
  • Prevenção de violência sexual
  • Autoconhecimento e autonomia corporal

A família desempenha papel crucial nesse processo. Pesquisas mostram que a supervisão e o diálogo com afeto por parte dos pais geram comportamentos sexuais mais saudáveis e livres de riscos nos jovens.

Seu Plano de Ação: 5 Passos para uma Vida Sexual Segura

Passo 1: Informe-se Busque informações de fontes confiáveis sobre ISTs, prevenção e tratamento. Converse com profissionais de saúde.

Passo 2: Vacine-se Procure um posto de saúde e verifique se você está em dia com as vacinas contra HPV e hepatite B.

Passo 3: Faça testes Realize testagem para ISTs antes de iniciar novos relacionamentos e mantenha um calendário regular de exames.

Passo 4: Tenha sempre preservativos Carregue preservativos com você e aprenda a usá-los corretamente. Preserve-se!

Passo 5: Converse abertamente Dialogue com seus parceiros sobre prevenção, testagem e uso de preservativos. Uma relação saudável permite essas conversas sem julgamentos.

Onde Buscar Ajuda e Informação

Para testagem gratuita:

  • Unidades Básicas de Saúde (UBS)
  • Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA)
  • Serviços de Atenção Especializada (SAE)

Para informações confiáveis:

Para preservativos gratuitos:

  • Qualquer Unidade Básica de Saúde
  • Centros de Testagem e Aconselhamento

Mensagem Final: Proteja-se sem Medo e sem Vergonha

Chegamos ao final deste artigo, mas sua jornada de autocuidado está apenas começando. As ISTs são uma realidade crescente no Brasil, mas você tem o poder de se proteger e de proteger quem você ama.

Lembre-se: fazer sexo seguro não é sinal de desconfiança, mas de responsabilidade e amor-próprio. Não existe vergonha em se cuidar, fazer testes ou usar preservativos. O que existe é a responsabilidade de cada um de nós em quebrar esse ciclo de aumento de infecções.

A mudança começa com você. Compartilhe esse conhecimento, converse abertamente sobre o tema e, principalmente, proteja-se sempre. Sua saúde sexual é parte fundamental do seu bem-estar geral.

Cuide-se, informe-se e viva sua sexualidade de forma plena, consciente e segura!

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