Adoçantes: como agem no corpo e o que novos estudos revelam sobre seus riscos
Você troca o açúcar pelo adoçante achando que está fazendo uma escolha mais saudável? Pois saiba que pesquisas recentes estão colocando essa crença em xeque. Estudos de 2024 e 2025 revelam descobertas preocupantes sobre como os adoçantes artificiais realmente agem no nosso organismo.
Neste artigo, você vai entender como funcionam os principais tipos de adoçantes, o que a ciência mais recente está descobrindo sobre eles e, principalmente, como fazer escolhas mais inteligentes para sua saúde.
O Que São Adoçantes e Como Funcionam no Corpo?
Adoçantes são substâncias que proporcionam sabor doce aos alimentos sem adicionar (ou com poucas) calorias. Parecem mágicos, não é? Mas a forma como interagem com nosso corpo é bem mais complexa do que imaginamos.
Como Nosso Corpo Processa os Adoçantes
Diferente do açúcar comum, que é quebrado em glicose e usado como energia, os adoçantes artificiais seguem caminhos diferentes no organismo:
Absorção intestinal: Alguns adoçantes, como o aspartame, são quebrados por enzimas no intestino. Já outros, como sacarina e sucralose, passam praticamente intactos pelo sistema digestivo.
Impacto metabólico: Embora não elevem diretamente a glicemia no curto prazo, pesquisas mostram que podem afetar o metabolismo de formas inesperadas.
Interação com a microbiota: Aqui está um dos pontos mais importantes: os adoçantes interferem nas bactérias benéficas do nosso intestino, o que pode desencadear uma série de problemas de saúde.
Os Principais Adoçantes e Seus Efeitos no Organismo
Vamos conhecer os adoçantes mais comuns e o que a ciência tem descoberto sobre cada um:
Aspartame
Poder adoçante: 200 vezes mais doce que o açúcar
Como age: É metabolizado em fenilalanina e ácido aspártico no intestino
Preocupações recentes: Estudos apontam associação com declínio cognitivo acelerado, especialmente nas funções de memória e fluência verbal
Importante: Pessoas com fenilcetonúria (doença genética rara) devem evitá-lo completamente
Sacarina
Poder adoçante: 300-500 vezes mais doce que o açúcar
Como age: Não é metabolizada pelo corpo, sendo eliminada pela urina
Preocupações recentes: Pesquisas mostram que pode alterar a resposta glicêmica em apenas 7 dias de consumo, além de modificar negativamente a microbiota intestinal
Sucralose
Poder adoçante: 600 vezes mais doce que o açúcar
Como age: Feita a partir da molécula do açúcar modificada
Preocupações recentes: Estudos indicam que pode afetar o metabolismo da glicose e aumentar a atividade do hipotálamo (região cerebral que controla apetite), potencialmente levando a maior consumo alimentar
Acessulfame-K (Acessulfame de Potássio)
Poder adoçante: 200 vezes mais doce que o açúcar
Como age: Não é metabolizado, sendo eliminado pelos rins
Preocupações recentes: Associado ao declínio cognitivo em estudos de longo prazo
Eritritol
Poder adoçante: 70% da doçura do açúcar
Como age: Absorvido no intestino delgado e eliminado pela urina
Preocupações recentes: Estudos de 2023 e 2024 mostram ligação com maior risco de formação de coágulos sanguíneos, ataques cardíacos e AVCs. Os níveis no sangue podem aumentar mil vezes após o consumo
Xilitol
Poder adoçante: Semelhante ao açúcar
Como age: Parcialmente absorvido e metabolizado
Preocupações recentes: Pesquisas de 2024 indicam que pode dobrar o risco de eventos cardiovasculares em pessoas com níveis elevados no sangue. Também causa desconforto intestinal em doses maiores
Sorbitol
Poder adoçante: 60% da doçura do açúcar
Como age: Absorção intestinal lenta
Preocupações recentes: Ligado ao declínio cognitivo e pode causar efeitos laxativos
Estévia (Stevia)
Poder adoçante: 200-400 vezes mais doce que o açúcar
Como age: Derivada da planta Stevia rebaudiana, não é metabolizada
Nota importante: Muitos produtos de estévia no mercado contêm eritritol como ingrediente de volume
O Estudo Brasileiro Que Mudou a Perspectiva: Declínio Cognitivo Acelerado
Uma pesquisa brasileira liderada pela Universidade de São Paulo (USP) e publicada em setembro de 2025 na revista Neurology trouxe resultados alarmantes que estão fazendo o mundo científico repensar o uso de adoçantes.
Principais Descobertas
Acompanhamento de longo prazo: O estudo acompanhou mais de 12 mil pessoas durante 8 anos
Risco aumentado: Participantes com maior consumo de adoçantes apresentaram taxa 62% maior de declínio cognitivo global
Memória e linguagem afetadas: Os prejuízos foram especialmente notáveis na memória de trabalho e fluência verbal
Envelhecimento cerebral acelerado: O consumo equivalente a apenas um refrigerante zero por dia foi associado a 1,6 anos de envelhecimento cerebral adicional
Como Foi Medido?
O estudo dividiu os participantes em três grupos: alto, médio e baixo consumo de adoçantes. Aqueles no grupo de maior consumo ingeriam cerca de 191 miligramas por dia – quantidade equivalente a um sachê de adoçante ou um refrigerante diet.
Os pesquisadores descobriram que os grupos de maior consumo apresentaram:
- Taxa 35% e 62% maior de declínio cognitivo global
- Taxa 110% e 173% maior de declínio da fluência verbal
O Que a OMS Diz Sobre Adoçantes?
Em maio de 2023, a Organização Mundial da Saúde lançou diretrizes que surpreenderam o mundo:
Recomendação principal: Adoçantes não devem ser usados para controle de peso ou redução de risco de doenças crônicas
Por quê? As evidências mostram que:
- Não há benefício comprovado na redução de gordura corporal a longo prazo
- Podem aumentar o risco de diabetes tipo 2
- Estão associados a maior risco de doenças cardiovasculares
- Podem aumentar a mortalidade em adultos
Exceção: Pessoas com diabetes pré-existente podem se beneficiar do uso controlado, sempre com orientação médica
Adoçantes e Saúde Cardiovascular: Uma Conexão Perigosa
Estudos recentes da Cleveland Clinic (2023-2024) revelaram uma conexão preocupante entre certos adoçantes e problemas cardíacos:
Eritritol e Xilitol: Os Vilões Cardiovasculares
Aumento dramático nos níveis sanguíneos: Consumir uma bebida com eritritol pode elevar seus níveis no sangue em mais de mil vezes
Formação de coágulos: Esses adoçantes fazem as plaquetas sanguíneas se agruparem mais facilmente
Risco dobrado: Pessoas com níveis mais altos de xilitol ou eritritol têm quase o dobro do risco de ataque cardíaco, AVC e morte em 3 anos
Efeito prolongado: O eritritol permanece elevado no sangue por dias após o consumo
Como os Adoçantes Afetam a Microbiota Intestinal
Uma das descobertas mais importantes da última década é a conexão entre adoçantes e a saúde intestinal.
O Que Acontece no Intestino?
Disbiose: Adoçantes artificiais alteram o equilíbrio das bactérias benéficas no intestino
Resistência à insulina: Essa alteração na microbiota pode levar ao desenvolvimento de resistência à insulina em poucos dias
Inflamação: A microbiota alterada pode promover processos inflamatórios que afetam todo o organismo
Barreira intestinal comprometida: Alguns estudos sugerem que adoçantes podem afetar a integridade da barreira intestinal
O Experimento que Provou a Conexão
Pesquisadores transferiram microbiota intestinal de pessoas que consumiram sacarina para camundongos livres de germes. Resultado? Os animais desenvolveram os mesmos problemas metabólicos observados nos humanos.
Adoçantes e Controle de Peso: A Grande Decepção
Durante décadas, os adoçantes foram vendidos como aliados do emagrecimento. Mas a ciência conta outra história.
Por Que Não Funcionam para Perda de Peso?
Não ativam a dopamina: Diferente do açúcar, adoçantes não estimulam a liberação de dopamina no cérebro, o neurotransmissor responsável pela sensação de saciedade
Aumentam o apetite: Pesquisas mostram que podem ativar o hipotálamo, aumentando a fome
Compensação calórica: Pessoas tendem a comer mais depois de consumir produtos diet
Preferência pelo doce mantida: Continuam reforçando o desejo por sabores doces
Alternativas Mais Saudáveis aos Adoçantes
Se você quer reduzir o açúcar sem recorrer aos adoçantes artificiais, existem caminhos mais seguros:
1. Reduza Gradualmente o Doce
A melhor estratégia é “desmamar” seu paladar do sabor doce intenso. Comece reduzindo a quantidade de açúcar ou adoçante aos poucos, até conseguir apreciar os alimentos sem adição.
2. Aposte em Frutas
Frutas frescas oferecem doçura natural acompanhada de fibras, vitaminas e minerais. Use-as para adoçar iogurtes, vitaminas e até receitas.
3. Especiarias Aromáticas
Canela, baunilha e cardamomo podem adicionar percepção de doçura sem calorias ou riscos à saúde.
4. Tâmaras e Outras Frutas Secas
Em receitas, podem substituir o açúcar oferecendo nutrientes extras.
5. Mel ou Açúcar de Coco (com Moderação)
Se for usar açúcar, prefira versões menos refinadas em pequenas quantidades. Lembre-se: a OMS recomenda limitar o açúcar a 5-10% das calorias diárias totais.
Quem Deve Ter Mais Cuidado com Adoçantes?
Alguns grupos precisam de atenção especial:
Pessoas com doenças cardiovasculares: Devem evitar especialmente eritritol e xilitol
Diabéticos: Devem usar apenas sob orientação médica, avaliando benefícios e riscos individuais
Gestantes e lactantes: A OMS recomenda cautela, pois a exposição precoce pode afetar preferências alimentares futuras
Crianças: A exposição precoce pode influenciar negativamente o metabolismo de açúcar a longo prazo
Pessoas com síndrome do intestino irritável: Polióis como xilitol e sorbitol podem causar desconforto significativo
Indivíduos com fenilcetonúria: Devem evitar completamente o aspartame
Quanto É Seguro Consumir?
As agências reguladoras estabelecem limites de Ingestão Diária Aceitável (IDA) para cada adoçante. No entanto, os estudos recentes sugerem que mesmo quantidades dentro desses limites podem ter efeitos indesejados a longo prazo.
Conselho prático: Se você consome refrigerantes zero, produtos light, gomas de mascar sem açúcar e adiciona adoçante ao café diariamente, provavelmente está no grupo de alto consumo.
O Que Fazer com Essas Informações?
Não é sobre criar pânico, mas sim tomar decisões informadas:
- Avalie seu consumo atual: Você usa adoçante em várias refeições? Consome produtos diet/zero açúcar regularmente?
- Busque orientação profissional: Converse com um nutricionista sobre alternativas personalizadas para seu caso
- Não substitua por açúcar em excesso: O açúcar também tem seus problemas. O ideal é reduzir o doce de forma geral
- Leia rótulos: Muitos produtos “saudáveis” contêm adoçantes escondidos
- Priorize alimentos integrais: Quanto menos processado, melhor
Conclusão: Repensando Nossas Escolhas
Os adoçantes foram introduzidos como solução mágica para os problemas causados pelo açúcar. Mas as pesquisas mais recentes mostram que eles não são a resposta milagrosa que procurávamos.
Em vez de simplesmente trocar o açúcar por adoçantes, precisamos repensar nossa relação com o doce. Nosso paladar foi condicionado a buscar sabores cada vez mais intensos, mas é possível reeducá-lo.
A ciência ainda está desvendando todos os efeitos dos adoçantes no organismo, mas os sinais de alerta são claros o suficiente para justificar cautela. Especialmente se você tem fatores de risco cardiovascular, histórico de problemas cognitivos na família ou simplesmente quer cuidar melhor da sua saúde a longo prazo.
Lembre-se: não existe atalho fácil para a saúde. A moderação, o equilíbrio e uma alimentação baseada em alimentos reais continuam sendo os pilares de uma vida saudável.














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