Hipertensão: entenda os valores, causas e como controlar a pressão alta

Você sabia que aproximadamente 38 milhões de brasileiros convivem com hipertensão? E o mais preocupante: muitos nem sequer sabem que têm a doença. Se você chegou até aqui, provavelmente está buscando entender melhor sobre pressão alta, seus valores ideais e como tratar essa condição que, embora silenciosa, pode ser bastante perigosa.

Neste artigo, vamos conversar de forma clara e objetiva sobre tudo que você precisa saber: desde os novos valores de referência até as formas mais eficazes de controlar a hipertensão no dia a dia.

O Que é Hipertensão Arterial?

A hipertensão arterial, popularmente conhecida como “pressão alta”, é uma condição crônica caracterizada pela elevação persistente da pressão do sangue nas artérias. Para entender melhor: imagine que suas artérias são como mangueiras e o sangue é a água que passa por elas. Quando a pressão dessa “água” fica muito alta, as paredes dessas “mangueiras” sofrem com o impacto constante.

Essa pressão excessiva faz com que o coração precise trabalhar muito mais do que deveria para bombear o sangue por todo o corpo. Com o tempo, isso pode causar sérios danos ao coração, cérebro, rins e outros órgãos vitais.

O grande problema da hipertensão é que ela costuma ser silenciosa. Você pode ter pressão alta durante anos sem sentir absolutamente nada – e é justamente por isso que ela é tão perigosa.

Quais São os Valores Ideais da Pressão Arterial?

Aqui está uma informação que você precisa saber: os valores de referência da pressão arterial foram atualizados recentemente. As novas diretrizes de 2024 e 2025 trouxeram mudanças importantes que afetam milhões de pessoas.

Nova Classificação da Pressão Arterial

De acordo com as diretrizes mais recentes da Sociedade Brasileira de Cardiologia, a classificação agora funciona assim:

Pressão Normal:

  • Valores abaixo de 120/80 mmHg (o famoso “12 por 8”)

Pré-Hipertensão:

  • Sistólica: entre 120-139 mmHg
  • Diastólica: entre 80-89 mmHg

Hipertensão Arterial:

  • Sistólica: igual ou acima de 140 mmHg
  • Diastólica: igual ou acima de 90 mmHg

Traduzindo para o português claro: se antes uma pressão 120/80 era considerada normal, agora ela já é vista como um sinal de alerta. A partir desses valores, você está na zona de “pré-hipertensão” e precisa começar a prestar mais atenção.

Por Que Essa Mudança?

A reclassificação não foi feita para assustar as pessoas, mas sim para agir de forma preventiva. Estudos científicos demonstram que o risco cardiovascular começa a aumentar a partir de valores acima de 115/75 mmHg. Ao identificar precocemente quem está na faixa de pré-hipertensão, é possível evitar que a doença se instale de fato.

Hipertensão é Genética ou Ambiental?

Essa é uma pergunta que muita gente faz, e a resposta honesta é: é uma mistura dos dois.

O Papel da Genética

A hipertensão tem sim um componente hereditário importante. Veja alguns dados reveladores:

  • Se apenas um dos seus pais tem hipertensão, você tem cerca de 25% de chance de desenvolver a doença
  • Se ambos os pais são hipertensos, essa chance sobe para 60%
  • Em cerca de 90% dos casos, existe algum tipo de predisposição genética

A hipertensão é considerada uma doença “poligênica”, o que significa que vários genes diferentes podem contribuir para seu desenvolvimento. Não é como algumas doenças genéticas que dependem de um único gene defeituoso – aqui, é uma combinação de fatores genéticos que aumentam sua vulnerabilidade.

Alguns genes estudados incluem aqueles relacionados ao sistema renina-angiotensina-aldosterona (que regula a pressão arterial) e genes que afetam como seu corpo lida com o sal.

O Papel do Ambiente

Mas ter predisposição genética não significa que você necessariamente terá hipertensão. É aqui que entram os fatores ambientais, que podem tanto “ativar” quanto “desativar” essa tendência genética:

Principais fatores ambientais:

  • Alimentação rica em sódio: O consumo excessivo de sal é um dos maiores vilões
  • Sobrepeso e obesidade: O excesso de peso força o coração a trabalhar mais
  • Sedentarismo: A falta de atividade física prejudica a saúde cardiovascular
  • Estresse crônico: Situações de estresse constante elevam os níveis pressóricos
  • Consumo de álcool: O excesso de bebidas alcoólicas aumenta a pressão
  • Tabagismo: Fumar danifica os vasos sanguíneos e eleva a pressão
  • Falta de sono de qualidade: Dormir mal afeta diretamente a pressão arterial

A Epigenética: Quando Ambiente e Genética se Encontram

Estudos recentes mostraram algo fascinante: fatores ambientais podem literalmente “ligar” ou “desligar” genes relacionados à hipertensão. Isso é chamado de epigenética.

Por exemplo, se uma pessoa passou por desnutrição na gestação ou primeira infância, isso pode causar alterações epigenéticas que aumentam o risco de hipertensão na vida adulta – mesmo que ela se alimente bem depois.

A boa notícia: Embora você não possa mudar seus genes, você TEM controle sobre os fatores ambientais. E isso faz toda a diferença!

Como Tratar a Hipertensão?

A hipertensão não tem cura, mas tem controle. E quando bem controlada, você pode ter uma vida completamente normal e saudável. O tratamento é dividido em duas frentes principais: mudanças no estilo de vida e medicamentos.

Mudanças no Estilo de Vida: A Base do Tratamento

Antes de falar sobre remédios, é fundamental entender que o tratamento começa com seus hábitos diários. Essas mudanças funcionam tanto para prevenir quanto para tratar a hipertensão:

1. Alimentação Inteligente

A dieta desempenha um papel crucial no controle da pressão arterial:

  • Reduza o sal: Limite a ingestão para menos de 5g por dia (cerca de 1 colher de chá). Isso inclui o sal “escondido” em alimentos processados
  • Aumente o potássio: Banana, batata-doce, feijão e vegetais verdes ajudam a equilibrar o sódio
  • Priorize alimentos naturais: Frutas, verduras, legumes, grãos integrais e carnes magras
  • Evite ultraprocessados: Salgadinhos, embutidos, congelados prontos e fast-food são bombas de sódio
  • Use temperos naturais: Alho, cebola, ervas e especiarias dão sabor sem elevar a pressão

O Guia Alimentar para a População Brasileira, do Ministério da Saúde, é uma excelente referência gratuita para seguir.

2. Atividade Física Regular

O exercício é um verdadeiro “remédio natural” contra a hipertensão:

  • Pratique pelo menos 150 minutos de atividade aeróbica por semana (caminhada, corrida, natação, ciclismo)
  • Combine com exercícios resistidos 2-3 vezes por semana
  • Comece devagar e vá progredindo gradualmente
  • O importante é criar consistência, não intensidade extrema

Dica importante: Se você já tem hipertensão descontrolada (acima de 160/105 mmHg), converse com seu médico antes de iniciar exercícios intensos.

3. Controle do Peso

Cada quilo a menos representa uma redução significativa na pressão arterial. Mesmo perder 5-10% do peso corporal já traz benefícios importantes.

4. Moderação no Álcool e Eliminação do Cigarro

  • Limite o consumo de álcool: no máximo 2 doses/dia para homens e 1 dose/dia para mulheres
  • Pare de fumar: o tabagismo danifica as artérias e amplifica todos os riscos da hipertensão

5. Gestão do Estresse

Encontre maneiras saudáveis de lidar com o estresse:

  • Meditação e mindfulness
  • Yoga ou pilates
  • Hobbies relaxantes
  • Terapia, se necessário

6. Sono de Qualidade

Durma 7-8 horas por noite. A privação crônica de sono está diretamente ligada ao aumento da pressão arterial.

Tratamento Medicamentoso: Quando e Como

Para quem já tem hipertensão confirmada (pressão igual ou acima de 140/90 mmHg), o tratamento medicamentoso geralmente é necessário. As diretrizes atuais recomendam:

Classes de Medicamentos Mais Utilizados:

  1. Inibidores da ECA (IECA): Como enalapril, captopril e ramipril
  2. Bloqueadores do Receptor de Angiotensina (BRA): Como losartana e valsartana
  3. Bloqueadores dos Canais de Cálcio: Como anlodipino e nifedipino
  4. Diuréticos Tiazídicos: Como hidroclorotiazida, clortalidona e indapamida

O “Trio de Ouro”

O tratamento inicial geralmente começa com a combinação de dois medicamentos em doses baixas, escolhidos entre:

  • Um IECA ou BRA
  • Um bloqueador dos canais de cálcio
  • Um diurético tiazídico

Por que combinar medicamentos? Porque medicamentos de classes diferentes atuam por mecanismos complementares, controlando melhor a pressão com menos efeitos colaterais do que usar um único medicamento em dose alta.

Meta do Tratamento

De acordo com as diretrizes mais recentes, o objetivo é manter a pressão arterial entre 120-129/70-79 mmHg, desde que o paciente tolere bem. Para pessoas acima de 85 anos ou com fragilidade, as metas podem ser individualizadas.

Medicamentos Gratuitos no SUS

Uma informação importante: o SUS oferece gratuitamente os medicamentos para hipertensão nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e pelo programa Farmácia Popular. Você só precisa apresentar:

  • Documento de identidade
  • CPF
  • Receita médica válida (tem validade de 120 dias)

Como Saber Se Preciso de Tratamento?

A decisão sobre iniciar tratamento medicamentoso não depende apenas dos valores da pressão, mas também do seu risco cardiovascular global. Veja:

Se você tem hipertensão confirmada (≥140/90 mmHg):

  • Tratamento medicamentoso está indicado para praticamente todos os casos
  • Mudanças no estilo de vida são obrigatórias junto com os medicamentos

Se você está na pré-hipertensão (120-139/80-89 mmHg):

  • Primeiro, invista pesado nas mudanças de estilo de vida por 3-6 meses
  • Se você tem outros fatores de risco (diabetes, doença renal, histórico de AVC ou infarto na família, entre outros), o médico pode indicar medicamentos mais cedo
  • Se mesmo com as mudanças a pressão continuar elevada, os medicamentos serão necessários

Condições que aumentam o risco e podem indicar tratamento mais precoce:

  • Diabetes
  • Doença renal crônica
  • História de infarto ou AVC
  • Colesterol muito alto
  • Tabagismo
  • Obesidade

Monitoramento Regular: A Importância de Medir Corretamente

Medir a pressão regularmente é fundamental, mas precisa ser feito da forma correta:

Como medir em casa:

  • Use aparelhos digitais de braço validados (evite os de punho)
  • Fique sentado, relaxado, por 5 minutos antes de medir
  • Não fale durante a medição
  • Apoie o braço na altura do coração
  • Evite cafeína, exercícios e cigarro 30-90 minutos antes
  • Faça pelo menos 2 medições com intervalo de 1-2 minutos

Com que frequência medir:

  • Pré-hipertensos: pelo menos 1 vez por semana
  • Hipertensos em tratamento: conforme orientação médica (geralmente 2-3 vezes por semana)
  • Pessoas acima de 40 anos: rastreamento anual

Cuidado com os “falsos positivos”:

  • Hipertensão do jaleco branco: pressão alta no consultório, mas normal em casa
  • Hipertensão mascarada: pressão normal no consultório, mas alta em casa

Por isso, a MAPA (Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial) ou MRPA (Monitorização Residencial) são tão importantes para confirmar o diagnóstico.

Complicações da Hipertensão Não Tratada

É importante você saber o que pode acontecer se a hipertensão não for controlada:

  • Acidente Vascular Cerebral (AVC): A pressão alta é o principal fator de risco
  • Infarto do Miocárdio: O coração sofre com o trabalho excessivo
  • Insuficiência Cardíaca: O coração enfraquece ao longo do tempo
  • Doença Renal Crônica: Os rins são danificados pela pressão elevada
  • Perda de visão: A hipertensão pode afetar os vasos da retina
  • Aneurismas: Dilatações perigosas nas artérias

A boa notícia? Todas essas complicações podem ser evitadas ou minimizadas com o controle adequado da pressão arterial.

Hipertensão em Grupos Especiais

Gestantes

Gestantes com pressão igual ou acima de 140/90 mmHg devem receber tratamento, com meta de manter abaixo de 140/90 mmHg. A hipertensão na gravidez requer acompanhamento rigoroso.

Idosos

A pressão alta é mais comum com o avanço da idade, mas isso NÃO é normal. Pessoas acima de 60 anos devem manter os mesmos alvos de tratamento, desde que tolerem bem. Para idosos frágeis ou acima de 85 anos, as metas podem ser individualizadas.

Pessoas com Diabetes

Diabéticos têm risco cardiovascular aumentado. Por isso, o tratamento deve ser iniciado precocemente e as metas são mais rigorosas.

Mitos e Verdades Sobre Hipertensão

“Pressão alta é coisa de velho”

  • MITO. Embora seja mais comum após os 60 anos, a hipertensão pode afetar pessoas de qualquer idade, inclusive jovens.

“Se não sinto nada, minha pressão está normal”

  • MITO PERIGOSO. A hipertensão é chamada de “assassina silenciosa” justamente porque raramente causa sintomas.

“Posso parar o remédio se minha pressão normalizou”

  • MITO. A pressão normalizou PORQUE você está tomando o remédio. Parar por conta própria é extremamente perigoso.

“Mudanças no estilo de vida funcionam de verdade”

  • VERDADE ABSOLUTA. Estudos comprovam que dieta adequada, exercícios e controle do peso podem reduzir a pressão tanto quanto alguns medicamentos.

“Chá de hibisco baixa a pressão”

  • PARCIALMENTE VERDADE. Alguns estudos sugerem benefícios modestos, mas NUNCA deve substituir o tratamento médico.

Conclusão: Você Tem o Controle

A hipertensão é uma doença séria, mas completamente gerenciável. Sim, existe influência genética. Sim, é uma condição crônica. Mas você tem MUITO poder de controle sobre ela através das suas escolhas diárias.

Lembre-se:

  • Conheça seus números e meça a pressão regularmente
  • Invista nas mudanças de estilo de vida – elas fazem diferença real
  • Se precisar de medicamentos, tome-os conforme prescrito
  • Mantenha acompanhamento médico regular
  • Não ignore sinais de alerta

A hipertensão controlada permite que você viva uma vida plena, ativa e saudável. O primeiro passo é o conhecimento – e você já deu esse passo ao ler este artigo. O próximo é a ação.

Sua saúde merece atenção. Sua vida merece cuidado. Comece hoje.


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